quinta-feira, 23 de julho de 2020

Adeus ao poeta !



MESTRE LUCIANO CARNEIRO DE LIMA 
( 1942-2020)

“E eu trabalho: penso, escrevo,
 invento, na Poesia,
crio histórias para os outros,
 espalho alguma alegria,
espanto a treva do Mundo
que em meu sangue se alumia
 dou beleza ao crime e ao choro...
É pouco, mas tem valia! “
Ariano Suassuna

Foram 78 anos. Nascido na Paraíba, de família humilde e de poucas posses, sem tempo e recursos para sentar em bancos de escola, cedo Luciano Carneiro de Lima descobriu que eram muitas as amarras que lhe prendiam ao chão. E, prematuramente,  idealizou: só a Arte tinha os poderes de lhe  proporcionar asas e brevê de voo. Viu, ainda menino , como Patativa,  “um diluve de rima /caindo pro riba da terra”. Aos 16 anos, adotou o Crato como sua terra, certidão do novo nascimento que anos depois teria a firma reconhecida pela Câmara Municipal . A busca pelo pão diário levou-o trabalhar como carroceiro, agricultor, vigia, mas seus olhos fitavam ao longe o manjar do espírito. A poesia terminou por preencher toda a larga mesa que convidava a todos para os banquetes e saraus das divas e de Dionísio. Como ele mesmo profetizara:


“Eu não tive vocação / Pra diácono nem vigário / Tornei-me então um poeta
Não muito extraordinário / Mas sou com muita alegria / No campo da poesia
Um verdadeiro operário”

Meia centena de cordéis publicados, incontáveis poemas recitados com os recursos teatrais da oralidade, Luciano carregava consigo os segredos mais íntimos da poesia: a linguagem escorreita, o humor fino e dosado, a forte temática social,  a fina ironia e a rima solta e , de tão natural, quase necessária e imperceptível. O reconhecimento do seu povo fluiu tão espontânea como seu verso: tornou-se Mestre da Cultura Popular do Ceará em 2008, fez-se um dos fundadores da Academia dos Cordelistas do Crato ( 1991) e ocupava a Cadeira Número 3, da Seção Folclore , do nosso Instituto Cultural do Cariri, sob a proteção do icônico Mestre Elói Teles. O Mestre amava tanto as musas do Olimpo como as terrestres e junto com os versos deixa sobre a terra treze filhos e uma chusma de netos e bisnetos.
                                   Nestes últimos dias, nosso Luciano, a contragosto, aprendeu que Poesia e Alegria rimam também com Agonia e Pandemia. Hoje, partiu na viagem de volta. Deixou , como o cometa que ora cruza os céus, seu rastro luminoso no nosso horizonte. Ficam seus versos, seu olhar poético para um mundo cada vez mais cartesiano e a certeza de que por mais fortes e tenebrosos que sejam os grilhões sempre é possível alçar voo com as asas da Arte ! “Espantou aquela treva do mundo , que no seu sangue se alumia ! Deu beleza ao crime e ao choro ! É pouco ? Mas tem Valia !”


 Instituto Cultural do Cariri

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