Nota à População Caririense

 

O Instituto Cultural do Cariri – ICC - une-se a uma grande parcela de caririenses na apreensão e  desapontamento  pela  dispensa do jornalista Antonio Vicelmo do quadro funcional da Rádio Educadora do Cariri, na última semana. Vicelmo faz parte do nosso Instituto, onde ocupa a Cadeira Número 7, da Seção Folclore, e sempre se fez um elo importante desta entidade, nas nossas atividades culturais que, em 2023, chegam a 70 anos. Pontuamos abaixo as razões da tristeza e da perplexidade do ICC, que também tomaram conta do Ceará:

1-     O Rádio cratense tem mais de setenta anos de história. Inclusive a primeira Rádio cearense, a PRE9 (a quinta implantada no Brasil) foi fundada em 1934 por João Dummar, um libanês radicado em Crato. A história do Rádio no nosso estado tem uma ligação umbilical com o Cariri, nas vozes de : Narcélio Limaverde, João Ramos, Wilson Machado, Rejane Limaverde (primeira locutora a apresentar “A Voz do Brasil”), Heron Aquino, Francisco José de Brito, Wilton Bezerra e Sampson Melo ( apresentador de programa brasileiro na BBC de Londres)  para citar apenas alguns dos baluartes que teceram a gloriosa façanha da radiofonia brasileira. Desta forma, a história do Rádio no Cariri nos mostra, claramente, que temos muito mais a ensinar do que a aprender;

2-     Antonio Vicelmo, há 56 anos no ar, é uma das lendas do Rádio cearense. Seu noticiário matutino faz parte da cratensidade e tem trazido a notícia diariamente a incontáveis gerações. Entende-se, facilmente, a grande repercussão negativa desta triste manchete de final de ano, um péssimo presente de Natal;

3-      Compreendemos que há, sim, razões gerenciais e empresariais que necessitam ser tomadas, periodicamente, para readaptação   e reengenharia , visando à sustentabilidade das empresas, conforme a nota publicada, sem assinatura, no Instagram da Rádio Educadora. Espera-se, no entanto, que instituições de viés religioso e confessional tenham uma conduta ética, humana, solidária, que extrapole, em muito, aquelas outras, onde o lucro é seu principal senhor. A perplexidade da população caririense vem, justamente, daí. Esperávamos todos que a solidariedade, a compreensão, o amor, a fineza, a educação, tão próprias das leis maiores do Cristianismo, não fossem apenas figuras de retórica guardadas em livros sagrados, mas uma prática humana do nosso cotidiano e das nossas ações;

4-     Por outro lado, é sempre bom lembrar que o Rádio é uma concessão pública e, assim, sujeita a regulamentação legal ( Art. 221 da CF/88), devendo seguir os princípios gerais de: finalidade artística, cultural e informativa; promoção da cultura nacional e regional; estímulo à produção independente; regionalização da produção cultural, artística e jornalística; respeito aos valores éticos. Transformar a grade de programação em estritamente religiosa, certamente, fere alguns desses princípios mais universais e exclui ouvintes que professam diferentes tendências de pensamento e de fé;

5-      A demissão de Vicelmo dos quadros da Rádio Educadora foi apenas o primeiro passo para outras muitas subsequentes: o recepcionista, Kleyver; a assessora do setor financeiro, Nágela  e o locutor Fábio Lemos.  O setor de esportes tinha reunião agendada para hoje, com fito possível de dispensa.  Além disso, com o afastamento dos locutores e funcionários, existe grande probabilidade de desarticulação da equipe de colaboradores: Franciolli Luciano, J. Lopes, Moisés Rolim, J. Flávio Vieira e Huberto Cabral;

6-     Lamentamos, por fim,  o tratamento dado ao nosso companheiro Antonio Vicelmo, após 56 anos de profícuos trabalhos na região. Acreditamos que merecia uma abordagem mais humana e mais solidária, ele que aos 81 anos ainda permanece em plena atividade intelectual e com o carisma intocado. Sem vínculo empregatício, Vicelmo auferia apenas um percentual das publicidades que ele mesmo conseguia. Já era um voluntário, diga-se de passagem, exigiam-lhe, agora, gratuidade plena.  A voluntariedade é sempre um ato pessoal e intransferível e não pode ser resultado de uma imposição.

 

O Instituto Cultural do Cariri solidariza-se com nosso companheiro Antonio Vicelmo, na certeza de que a história que foi escrita nesses quase sessenta anos de atividades ininterruptas ficará indelevelmente marcada na Memória caririense. Os que desconhecem a gloriosa saga já escrita com tanta propriedade,    e  pretendem escrever os novos capítulos da história do Rádio no Cariri ,  precisam se esmerar em seus projetos e suas ações, pois não é apenas rasgando as páginas anteriores do livro  que surgirá um final mais apoteótico.  

 

Crato, 28 de Dezembro de 2022.

 

SUBSCREVEM O DOCUMENTO:

 

J. FLÁVIO VIEIRA

PRESIDENTE

FRANCISCO MARCOS BEZERRA DA CUNHA

VICE-PRESIDENTE

ANILDA FIGUEIREDO

SECRETÁRIA

ROBERTO JAMACARU

TESOUREIRO

CARLOS ALLAN BASTOS

DIRETOR SOCIAL

 

DIRETORES:

CLAUDE BLOC BORIS

MARIA DE FÁTIMA MENDES DE ALENCAR

ANTONIA CILEIDE DE ARAÚJO

MARIA LAICE ALMEIDA LACERDA

MARIA FABIANA GOMES VIEIRA

 

SÓCIOS

FRANCISCO JOSÉ DE BRITO

AGLÉZIO BRITO

HEITOR BRITO

EDILMA ROCHA

DIANA FEITOSA

JOÃO CALIXTO JR

SÁVIO PINHEIRO

WEBER GIRÃO

JOSÉ FLÁVIO MORAIS

PAULO DE TARSO DE ALVES DE SOUSA

MARIA DO ROSÁRIO LUSTOSA

JOÃO BOSCO DE SOUSA RODRIGUES

ROBERTO JÚNIOR

NOTA DE PESAR

 FRANCISCO ARAÚJO TELES 

                            ( TUTITA)

                   24/02/1941  - 12/12/2022

 

O Instituto Cultural do Cariri junta-se , neste momento , a toda tribo caririense na tristeza pela partida do nosso querido Francisco Araújo Teles , conhecido  carinhosamente por Tutita. Nascido em Santa Quitéria, por umas dessas ironias do destino, o cratense raiz , nunca abandonou os pés da Chapada do Araripe. Mesmo quando , por questões estudantis e profissionais, precisou percorrer outras terras como: Ipu, Fortaleza, Juazeiro do Norte, os seus olhos nunca se afastaram da paisagem verde da serra e das fontes murmurosas das encostas. Profissionalmente,  enveredou por incontáveis atividades.  Eclético, inteligente, desenvolto, fez-se sempre um funcionário padrão quer como comerciante, administrador, contador e, por fim, bancário e gerente do banco do brasil, cargo onde se aposentou  em 1990. Casado com d. Eunice Menezes desde 1962, legou a estas terras uma família sóbria, harmônica e querida:  seis filhos, dezoito netos e três bisnetos. Nascido da musical prole do maestro Pedro Teles, com vários irmãos e irmãs músicos inspirados, Tutita tinha um apurado gosto musical, sendo seu cantor predileto o grande Orlando Silva, de quem possuía quase toda discografia e a quem teve a honra de hospedá-lo, na sua vinda ao Crato,   em 1966. Aposentado, Tutita se tornou um leitor voraz, tinha uma memória prodigiosa e acompanhava pari passu as atividades do nosso instituto cultural do cariri, colegiado que ele integrava, na Cadeira Número 5, da Seção Folclore, que tem como patrono o seu pai Pedro Teles. De todas as múltiplas artes que o nosso Tutita exercia, a mais importante delas foi, certamente, a de fazer amigos. Mantinha o espírito boêmio de sua geração, tinha o copo furado, gostava dos balcões , das mesas de bar e das pescarias e comemorava todos as nossas festas de solstícios, com grande galardia e devoção, como o São João e o carnaval. Numa vida que é sempre tão breve e a arte tão longa como vaticinara Hipócrates, Tutita percebia que era importante comemorar o milagre da existência em todas as suas mínimas e mais inexpressivas facetas. Deixou uma legião de amigos e admiradores que extrapolam em muito a capacidade desta cidade, neste momento de despedida. Dói em nós a inevitabilidade da impermanência , mas, vendo a trajetória simples, alegre, tranquila de Tutita, fica-nos sempre aquela certeza de que , no jardim, as rosas feneceram, mas é possível percebê-las, claramente, em sua brilhante presença, pelo perfume que continua espalhado no ar.

Grande Tutita !

Que vida !

 

J Flávio Vieira

Presidente do ICC