segunda-feira, 8 de maio de 2023

Nota de Pesar

 


José HUGO de Alencar LINARD

 

                 16/04/1947  -  08/05/2023

 

“Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me desfaço e não me canso
De viver, nem de cantar”

Milton Nascimento/Fernando Brant

 

                            O Cariri perdeu hoje um de seus músicos mais inspirados: o tecladista Hugo Linard. Músico intuitivo, desde os cinco anos , ainda sem suportar o peso da sanfona, o menino Hugo já ensaiava seus primeiros acordes. Nos anos 60-70 fez-se maestro da Big-Band mais viral da região: “Azes do Ritmo”. Com ela fez a música incidental de muitas gerações de caririenses, tecendo o clima do enlevo, do encontro da paixão, propício ao bíblico “Crescei e Multiplicai”. Com a partida de Hugo esfacela-se muito da história das big-bands do Sul cearense. A memória de incontáveis instrumentistas, das façanhas e aventuras daqueles que viviam com o pé na estrada, animando as noites com seus acordes. Casado com o amor da susa adolescência , Filomena Alencar, Hugo deixa ao mundo quatro filhos : Leninha ( uma das nossas mais inspiradas cantoras), Hugo Filho , Emanuel e a professora Renata. Nos últimos anos , continuava em plena atividade, com uma banda que englobava seus rebentos mais próximos: a Família Linard. A banda lhe trazia a paz e a certeza de que seu legado se estenderia bem adiante dos limites do seu tempo.  A roupa encharcada e a alma repleta de chão proporcionaram a Hugo um ecletismo de repertório difícil de se encontrar num instrumentista. Ciclava com galhardia da MPB, ao choro, ao Tango,  à música francesa e italiana, à nordestina e à clássica sem quaisquer sobressaltos. De extremo bom gosto,  sabia, perfeitamente, que só existem duas formas musicais, a ótima e a péssima e que só havia uma razão de quebrar o silêncio pacificador: trazendo acordes harmônicos que justificassem o delito. No nosso ICC, Hugo Linard ocupava a cadeira de número 07 da Seção de Artes & Ofícios, patronada pelo grande músico polonês Arnaldo Salpéter, um dos primeiros a perceber a sensibilidade  musical do menino Hugo.

                   O Instituto Cultural do Cariri une-se hoje à família Alencar-Linard, neste momento onde todos os instrumentos emudecem em reverência ao grande Hugo .  Se a música é o silêncio em movimento, como um dia definiu Fernando Sabino, hoje , com a sanfona a meio pau, um silêncio estático e paralisante toma conta do Cariri. Que haja música do outro lado da esquina que hoje o nosso músico dobrou, encontrará ali , certamente , aquilo que ele chamaria de paraíso.

Grande Hugo Linard !

 

J. Flávio P. Vieira

Presidente do ICC   

2 comentários:

  1. Merecidíssima homenagem do, também inspirado, mestre José Flávio a um dos maiores músicos da história do Cariri!

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